Banqueiros dividem-se entre elogios e o “não comento” à venda do Novobanco ao Grupo BPCE

Os banqueiros portugueses, que admitiram comentar a venda do seu concorrente ao BPCE Group, elogiam, em geral, a operação de venda do Novobanco ao grupo francês BPCE por 6,4 mil milhões de euros.

No entanto é unânime que nenhum dos bancos portugueses teria capacidade de cobrir uma oferta por este valor. “Onde é que um banco português tem 6,4 mil milhões?”, refere um dos banqueiros.

“É óptimo para o mercado português que um banco francês aposte em Portugal, pois isso significa mais oportunidades de escolha para clientes e colaboradores”, disse outro CEO de um dos maiores bancos.

Já o CEO do BCP, Miguel Maya, considerou que a operação revela “o mercado a funcionar”. “O Novobanco continuará a ser um bom e sério concorrente”, afirma o presidente do maior banco privado e o único cotado em bolsa.

Miguel Maya, tradicionalmente crítico do mecanismo de capitalização contingente que capitalizou o Novobanco e do peso das contribuições bancárias para o Fundo de Resolução, considera também que a venda é um bom negócio para o Fundo de Resolução.

Recorde-se que o Estado vai encaixar 733,4 milhões de euros com a venda do Novobanco, enquanto o Fundo de Resolução recebe 866,6 milhões. A estes valores acrescem ainda os dividendos distribuídos.

O valor pela qual foi vendido o Novobanco surpreendeu o sistema. Não só pelo elevado múltiplo mas porque o BPCE, não estando no mercado português, não ganha grandes sinergias com a aquisição, ao contrário do que aconteceria, por exemplo, com o BPI, se o CaixaBank comprasse.

Segundo revelou Nicolas Namias, CEO do BPCE, na conferência de imprensa, o price/earnings ratio (PER) desta operação é de 9, em linha com o PER da banca ibérica, disse o banqueiro.

O maior banco português, a CGD, com este múltiplo vale 15,3 mil milhões de euros, refere uma fonte do setor. Já o BCP, se aplicássemos um PER de 9 valeria aproximadamente 12 mil milhões.

”Esta venda é boa para a Lone Star e para o Estado”, revela um banqueiro.

O presidente da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo, também não comentou a venda do Novobanco.

Mas desde logo para a CGD é positivo que mantenha a posição de liderança no mercado português.

A CGD, que esteve a estudar o Novobanco, chegou a reconhecer que “comprar a totalidade estaria fora de equação, tanto pelo interesse da Caixa, quanto pela questão da complementaridade, já que existiria uma grande sobreposição se houvesse uma aquisição total. Nem a própria Autoridade da Concorrência o permitiria. Nesse sentido, a Caixa nunca equacionou, ela própria, comprar o Novobanco. O que já dissemos e continuamos a dizer é que um portefólio que seja uma carteira de crédito a empresas e o negócio de empresas é algo em que estamos interessados”, disse numa entrevista, o CEO, dias antes de se conhecer o comprador escolhido pela Lone Star.

O fato de não ter sido escolhido o CaixaBank vai, pelo menos, ao encontro do que sempre defendeu Paulo Macedo, que se manifestou contra uma compra do Novobanco pelo CaixaBank, afirmando que “não é normal um país estrangeiro ter 50% do sistema bancário de outro país”.

A Lone Star anunciou, na passada sexta-feira, dia 13, a assinatura de um Memorando de Entendimento para a venda do Novobanco, o quarto maior banco português, ao BPCE Groupe, uma instituição bancária europeia líder, por uma contrapartida em dinheiro a pagar no fecho da transação, que avalia 100% do capital social em cerca de 6,4 mil milhões de euros no final de 2025.

“A aquisição, com conclusão prevista para o primeiro semestre de 2026, representa um significativo voto de confiança no setor bancário português e no futuro económico do país”, refere a Lone Star em comunicado.

O CEO do BPI, banco do CaixaBank que esteve a disputar com os franceses do BPCE a compra do Novobanco, não quis comentar.

O presidente da Associação Portuguesa de Bancos, Vítor Bento, também não se quis pronunciar sobre o assunto.